18 de setembro de 2009

Entrevista com Irídio Moura - Take 2

Voce confere a segunda parte da entrevista com o Irídio. Aqui conversamos sobre o cenário nacional. Aproveite!

E o que tem sido feito dentro do cinema brasileiro?

IM:Bem bacana, acho que o cinema brasileiro está se enriquecendo bastante nesse sentido. As produções recentes estão bem caprichadas em termos de som, tem um filme que é muito esquecido, um filme que pouca gente lembra, é com um grande ator, um dos maiores atores de cinema, faz também teatro e Tv, que é o José Dumont, e o filme é o Narradores de Javé, que eu gosto de mais, um filme que fala justamente do poder da linguagem. Eles brincam muito com isso, falam de uma comunidade em que todo registro era oralizado. Não tinha nenhum registro guardado, escrito, todo documento era na boca e na fala. Você dizia, daqui até aqui é terreno meu, e todo mundo respeitava. É meio que um mundo utópico, uma idealização que foge da realidade, algo que em nenhum momento talvez a gente conseguisse fazer o mundo funcionar assim.



Mas o filme trabalha brilhantemente o plano sonoro, tem umas sacadas geniais, desde o início de juntar uma orquestra com o trabalho de um DJ e brincando com essa relação do passado com o futuro presente a tecnologia, a realidade atual que chega dominando e mudando um pouco os costumes. A história conta justamente isso, uma comunidade que tem que sair de seu local de origem, uma cidade que vai ser exterminada, todo mundo vai ter que se mudar pra outro lugar, por que uma hidrelétrica vai tomar aquele espaço alí.


Música de DJ Dolores e Orquestra Santa Massa, tocada durante os créditos iniciais do filme Narradores de Javé

E essas relações são um grande barato, você poder criar analogias novas, simbolismos novos. Então tem filmes brilhantes, brasileiros, o Cidade de Deus, tem um tratamento sonoro muito legal, outros filmes que emocionam também, muitos filmes do Walter Salles, que usam um trabalho musical e sonoro muito legal, principalmente filmes mais experimentais, mais recentes, a gente vê muitos filmes do Heitor Dhalia agora. Realmente eles capricham!

Uma história muito interessante foi quando assisti o Cinema, aspirinas e urubus e deu problema numa das pistas de áudio, tava passando num cinema bacana aqui em Curitiba, e alguns sons ambientes a gente não conseguia perceber. Teve uma cena que o personagem saía do carro e ficava olhando pro nada, um rio meio seco, uma ponte, não fazia sentido. Na outra vez que a gente assistiu o filme com o áudio em perfeito estado a gente ouvia que aquele tempo que ele tava aparecendo dos ombros pra cima olhando ao longe, um rio seco em cima de uma ponte, a gente ouvia pelo sonzinho e conseguia entender o que ele tava fazendo aquele tempo parado: ele tava fazendo xixi! Pelo áudio a gente percebeu isso, que ele tava aproveitando pra fazer um xixizinho básico na ponte... parou estacionou o carro...




Engraçado como o som é rico, o som traz alguns conceitos que às vezes a imagem não consegue por si só ser competente, a gente pode com o áudio trazer significados, desde coisa básicas que não tem importância vital para a compreensão do filme e da historia, ou situações em que realmente o som traz o grande conceito, o significado principal e resolve uma cena, faz a galera entender a intenção de um personagem de um jeito diferente. É meio exagerado achar que a música e o som resolvem, melhoram um filme. Se um filme não for bem feito em termos de roteiro, direção, interpretação fotografia, não é só uma musica boa ou um bom som que vai conseguir resolver tudo isso daí. Mas mas ele pode se combinar e valorizar ainda mais um filme, isso aí é verdade.

6 comentários:

Saulo Rios disse...

Muito legal o comentário que ele faz sobre o filme Narradores de Javé. Um filme que trabalha bastante a tradição oral. Um dos melhores papéis do Zé Dumont no cinema. Num momento onde as formas de se fazer música eram no boca a boca. Outro filme brasileiro bacana onde a trilha sonora tem papel fundamental é o Lavoura Arcáica, trilha regida pelo músico Marco Antônio Guimarães, que promoveu uma pesquisa intensa para realização do filme.

Parabéns, mais uma vez, pelo blog Lila.

Bjos

Felipe disse...

Muito bacana o blog, Lila. Gostei mesmo.
Parabéns pela boa ideia, pelo texto agradável e pelo uso das ferramentas multimídias, ideiais para apontar as interações entre comunicação, arte e tecnologia.
Continuarei acessando, à espera de novos posts. Boa sorte!

Felipe disse...

Ops! leia-se "ideais".

BAÚ DE ALICE disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jacqueline disse...

oi Lila, adorei o blog. Eu não tinha idéia que existia um profissional apenas para cuidar da sonorização e trilha sonora de um filme. A partir de agora vou prestar atenção quem é o responsável por esse trabalho e ao próprio trabalho em si que só os aficionados e quem trabalha com cinema consegue perceber. Ah, assisti ao filme tempos de paz, e a trilha sonora do Egberto Gismonti, estava maravilhosa.
Parabéns pelo blog.
bjs
Jacqueline

Unknown disse...

Lila! Seu blog tá muito bacana!! Tá de parabéns!!!